O aumento na oferta de crédito deve ampliar os projetos de energia solar na agricultura. A perspectiva é do presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), Rodrigo Sauaia.
O agronegócio representa apenas 3% da geração distribuída por meio do sistema. O total instalado de geração distribuída solar fotovoltaica é de 106 megawatts (MW). “Ainda não é possível estimar o quanto a participação do setor nos projetos deve aumentar, mas com certeza irá crescer, já que é o setor que tem as melhores condições de financiamento”, estima.
A gerente de sustentabilidade do Rabobank, Thais Fontes, observa a que há uma dependência muito grande de energia nas propriedades que pode ser suprida pela energia solar. No entanto, muitas linhas de crédito exigem que 70% dos itens do projeto sejam de fabricação nacional, o que dificulta o acesso ao recurso, já que muito itens são importados. Isso fez com que instituições financeiras despertassem para essa demanda. “Começamos a oferecer a opção de financiamento no primeiro trimestre deste ano e já temos dois clientes fechados e outros seis projetos em negociação”, comenta ela.
O Banco do Brasil também lançou, em abril, o Programa BB Agroenergia, com sete linhas de financiamento voltadas para a agricultura familiar, empresarial e cooperativas. Os juros vão de 2,5% e 12% ao ano e o prazo é de até 12 anos para pagamento. Desde então 45 milhões foram liberados para projetos, com valor médio de R$ 400 mil cada. “Temos mais R$ 150 milhões em negociação para financiamento”, revela o gerente executivo da diretoria de agronegócios do BB, Gunther knak. Ele calcula que o público potencial para esse tipo de projeto chega a 120 mil produtores no País.
O Sicredi também aposta no crescimento do uso da energia limpa no campo. Desde o lançamento de seu consórcio sustentável, em julho de 2015, já foram comercializadas 7,4 mil cotas e mais de R$ 266 milhões em créditos. “As linhas até então eram restritas e caras, e havia uma demanda crescente em virtude do encarecimento da energia elétrica”, diz o gerente de marketing do Banco Cooperativo Sicredi, Fernando di Diego.
Esse ano a perspectiva é que o consórcio cresça 20%. O banco cooperativo também criou uma linha de crédito específica para energia solar, em 2015. Desde então, foram negociadas 145 operações, que somam R$ 13 milhões. “Haverá crescimento nas duas alternativas que oferecemos”, estima di Diego.
Apesar da oferta de crédito crescente, o presidente da ABSOLAR, salienta que em muitos casos, o produtor tem dificuldades de dar garantias reais aos bancos. “Esse é um grande obstáculo e está em nossa pauta de prioridades.”
Vantagens
Mas o que leva o produtor rural a investir na energia fotovoltaica? Segundo o presidente da Absolar, a principal vantagem é a redução no gasto com energia. A economia na conta de luz pode chegar a 80%.
Além disso, com aumento de fornecedores locais, o investimento necessário para os sistemas caiu 80% nos últimos dez anos. “Nos próximos anos essa queda deve continuar, entre 5% a 6% ao ano”, projeta Sauaia.
No campo, os painéis solares têm sido instalados para gerar energia para abastecer vinícolas, granjas, refrigeração de alimentos, irrigação, cercas elétricas e aquicultura. Conforme a Absolar, a demanda é maior nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo e na região Sul.
As empresas que vendem a tecnologia começam a sentir nos negócios o impacto da maior oferta de crédito. “Estamos vendo um crescimento exponencial da procura”, diz o diretor superintendente da Fockink, Siegfried Kwast.
A empresa de Panambi, no Rio Grande do Sul, começou a vender painéis solares em 2012. “Começamos com cautela, porque o payback era de até 22 anos. Hoje, o projeto se paga em até sete anos”, destaca ele. Uma das razões da maior procura.
Já o sócio diretor da Ciel & Terre Brasil, Orestes Gonçalves, notou que as vendas dobraram no primeiro semestre deste ano em relação ao ano passado. A empresa fabrica painéis solares flutuantes no País. “Nesse caso também há queda de 70% na evaporação da água e a liberação de área agricultável.”
Vinho solar
A vinícola Guatambu, de Dom Pedrito (RS), processa as uvas que colhe inteiramente com energia solar. Há um ano e meio 600 painéis foram instalados no estacionamento da vinícola, com aporte de R$ 1,5 milhão. “O resultado superou as expectativas”, comenta o proprietário da Guatambu, Valter Pötter.
A média é de 570 quilowatts (KW) por dia, com picos de 720 KW por dia no verão. “Isso supera o nosso consumo e reduziu em 75% a nossa conta de luz”, explica Pötter. O gasto não chega a zero pela necessidade de pagamento de energia elétrica para o consumo quando não há geração ou ela é menor – no inverno ou à noite. “Infelizmente não dá para pagar isso em energia”, lamenta. “Mesmo assim, estou muito satisfeito”, destaca.
As vendas cresceram 15% e as visitas à vinícola subiram 20% desde a instalação dos painéis. No mês passado, a vinícola recebeu o “selo solar” do Instituto Ideal, alusivo ao uso da energia limpa. O vinho também ganhou em qualidade. A vinícola passou a resfriar as uvas no pré-processamento em temperatura mais baixa e por mais tempo. “Isso nos deu um ganho impressionante, já que a uva não começa a fermentar antes da hora.”
Ele pretende instalar painéis solares também nas áreas de pecuária e agricultura que possui. “É um investimento de baixo risco, que não exigiu manutenção”, diz. “Mas o retorno de mercado não deve ser tão direto quando o do vinho, no qual podemos comunicar a sustentabilidade do produto no rótulo.”